quinta-feira, 11 de março de 2010

Waking Life (2001) - Richard linklater

O filme começa lento, duas crianças brincando, o clássico joguinho em papel de números, cores e uma frase, a frase é "Sonhar é destino". Nosso personagem principal não tem nome, não lida com a família, não lida com amigos e logo após pegar carona com um desconhecido dirigindo barco que circula pelas ruas e ser deixado aleatoriamente em um local desconhecido é atropelado e não consegue mais acordar de seu "sonho", sendo obrigado lidar consigo mesmo.

Waking Life é, na minha opinião, daqueles filmes onde a história não tem função alguma, a não ser servir como teia para diversos temas abordados, não que isso seja ruim, é até agradável, acompanhamos nosso personagem sonhador em suas viagens através desse universo procurando acordar, enquanto lida com diversas personalidades e questões da vida (lembra um pouco nossa existencia real, não?). Aborda-se tudo, existencialismo francês, religião, democracia, revolução, ativismo, arte, realidade, linguagem e seus signos, há até mesmo metalinguagem, com o filme falando de filme, e por ai vai a se perder de vista.

Quem já viu MindWalk do Bernt Amadeus Capra, vai estar acostumado com o andamento do filme, são discursos e levantamentos filosóficos, que num documentário ficariam sendo pedantes e massantes demais, se apoiam na obra ficcional para se tornarem mais amenos. Não que isso torne o filme chato, não, Linklater que provavelmente estava entediado depois de gravar o mediano, dispensável e agradável "Os irmãos fora-da-lei" e resolve fazer uma animação por rotoscopia, gravando todas a cenas e depois desenhando insanamente frame por frame por cima delas. O resultado é impressionante, com o fundo se liquefazendo, o personagem mudando de aspecto, volume e forma de um instante para o outro, o que por si só já torna a obra bastante singular.

É com certeza um filme dos mais interessantes, que te faz pensar, já o vi ainda cinco vezes e creio que ainda o verei mais algumas vezes pela experiencia visual super alucinógena e pelos assuntos complexos que sempre necessitam uma revisita. Você vê de tudo, mito da caverna, crítica a intelectualização desmedida desprovida de ação, a rizomização da evolução humana, a automatização da experiencia de vida. Com certeza você pensara em trocar algumas palavras com desconhecidos na rua depois de ver esse filme.

Linklater nos mostra que se não é um sempre maravilhoso diretor ou um roteirista dos mais brilhante e eternamente inspirado, é alguém profundamente ligado as questão da humanidade, tanto contemporaneamente, quanto de modo universal.

Notas:
IMDB: 7.5
Rotten tomateos: 7.9
Boy Bobão: 8.0



Essa passagem é a minha favorita, digna dos escritos do Anarquista ontologico Hakim Bey. Agressivamente libertadora.

terça-feira, 9 de março de 2010

Almoço Nu - Naked Lunch (1991)

Cinema autoral inspirado na obra homônima do mais maldito beatnik, William Burroughs. David Cronenberg não ficando atras do romance chuta o pau da barraca e faz uns dos filmes mas viscerais e amalucados que eu já vi.

Em misto de livre adaptação e obra biográfica do autor do romance, somos jogados no meio de uma obra densa em um ritmo frenético, doentio, é impossível sentir-se confortável enquanto observa. Elementos cuspidos em nossa direção em violenta profusão, regados a alucinações, paranoias, vícios e música atonal.

A história é a de Bill Lee, interpretado por Peter Weller, exterminador de insetos, que incentivado pela própria esposa viciada em inseticida, interpretada por Judy Davis, vicia-se também, após Bill matar sua mulher brincando de Guilherme Tell, é jogado em meio a sua escrita e (aqui somos forçado a livre interpretação)uma conspiração de insetos e criaturas bizarras.

A montagem é de um ritmo irregular, com instantes onde os cortes mais lembram uma apresentação de slides para pouco depois haver câmeras contemplativas que parecem ter inspirado Gus Van Sant. O roteiro vai acelerando em desacelerando constantemente, certamente não há um ápice, há vários, regados reviravoltas esquizofrênicas, fazendo nos sentir em algum brinquedo de parque temático, jogados de um lado a outro.

A fotografia suja, típica da obra de Cronenberg, que flerta hora, com o cinema Noir, hora com uma estética kitsch digna do anos 80, casa quase em simbiose com o ar junkie de vícios, excrementos e promiscuidade, onde até maquinas de escrever gozam no êxtase do escrever.

As interpretações se não são brilhantes, fazem sua parte, para que a mente criativamente caótica de Cronenberg casada com Perversidade, esquizofrenia e decadência moral da obra de Burroughs brilhem.

A trilha sonora, puramente jazzistica, digna dos beatniks, feita Ornette Coleman, que ajuda com enorme eficiência no clima denso, irreal e desconfortável, é um caso a parte, só não recomendo que a baixe para ouvir, ou talvez você seja sádico.

Para quem leu o livro, é imperdível ouvir da própria boca de Bill Lee, o conto do homem que ensinou o cu a falar, entre outras passagens memoráveis do romance.

Notas
IMDB: 6.8
Rotten Tomateos:6.7
Boy Bobão: 7.5





Para quem não sabe, me chamo Felipe, sou um amigo da Isa, Gosto de perversidade, estranheza e pretensão, esperem de mim filmes ruins com doses de pretensão artística e elementos praticamente dadaistas e surreais.

segunda-feira, 1 de março de 2010

A primeira noite de um homem

Sabe aqueles filmes que te dão comichões? Que ora ou outra, você se pega rindo sozinho e alto, que emociona mesmo, que te faz torcer pelo herói?

É o caso do Dustin Hoffman em A primeira noite de um homem. Que filmão! Acho que foi a terceira vez que eu assisti, mas todas as outras vezes eu devia estar com sono e não percebi quão fabuloso ele é.

Mike Nichols (que dirigiu "Closer" também) começou bem, viu.

Benjamin Braddock acaba de sair da faculdade, e durante uma festa de comemoração dos pais na sua casa que ele não está nenhum pouco interessado, a esposa do sócio do pai dele o intimida a levá-la para casa. Como um bom rapaz, ele o faz, e a mulher não perde tempo. Mas Ben não se interessa, ou talvez fique muito nervoso com a situação, e vai embora, assim que o marido dela chega à casa.
Arrependido, ele liga para ela dias depois e eles marcam um encontro. Um caso um tanto bizarro começa a acontecer, mas o que nenhum dos personagens esperava aconteceu: Ele se apaixona pela filha da mulher.

Lindo, lindo!

E claro, a trilha de Simon & Garfunkel não tem como não adorar.