domingo, 30 de janeiro de 2011

Baarìa - Giuseppe Tornatore (2009)



Originalmente postado em: inferno-dantesco.blogspot.com/


Não entendo por que tanta gente está reclamando deste filme do Tornatore. Superem "Cinema Paradiso", pessoas, e vamos parar com as comparações.

Concordo, não há um aprofundamento no vínculo telespectador-personagem, e isso faz com que não nos identifiquemos com o drama. Mas espera aí, será que é o personagem (menino-homem) com quem devemos nos identificar? Creio que não. Essa não é a história de um herói. É a história de uma cidade, de um povo, de uma época. Contada tão singelamente que transcende a autobiografia de Tornatore e nos traz uma realidade próxima a nossa. Por que dizer logo de cara que a maneira rápida e saltada de contar a história e as elipses plásticas e dramáticas tão bruscas são erros do diretor? Não seria o voo do garoto no início do filme o nosso voo pela história que o filme conta?

Não quero falar em certezas, porque muito fica em aberto nesse filme. Você pode escolher onde se inicia o sonho. No entanto, como diz o garoto no filme "Mas pra ficar rápido, a mosca tem que morrer?". Não, ela não tem que morrer. E esse é um jogo simbólico extremamente importante para o significado artístico do filme.

Com as ricas incertezas, ainda ficam na memória os bélissimos planos que embelezam as paisagens secas, os diálogos inocentes, a atuação dos jovens e dos velhos. Fica o filme na memória. Porque Tornatore não fez um Cinema Paradiso 2 para nós, amantes do título, mas fez o que queria, e muito bem feito.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cape Fear - Martin Scorsese


[Demorei muito para escrever aqui, mas agora tenho tempo sobrando. Espero agradar]

Sinopse: Max Cady (Robert De Niro), um estuprador condenado, liberado da prisão após 14 anos de sentença cumpridos, persegue a família do advogado que o defendeu.

Scorsese é um dos grandes nomes do cinema. Fez grande sucesso nos anos 70 com "Taxi Driver", continuou nos anos 80 com os conhecidos "Raging Bull" e " The Last Temptation Of Christ". "GoodFellas", "The Departed" e o recente "Shutter Island" também levam seu nome. Pronto. Alguns de seus principais filmes podem guiar para uma melhor visão daquilo que "Cape Fear" representa.

Interessante notar como o Scorsese gosta de trabalhar um tema constante: as formas que o "mal" adentra a sociedade. Nessa trama de suspense criada na linha de Hitchcock, como muitos filmes do Scorsese são, a trilha é usada narrativamente de uma forma incrível. Sempre apoteótica, no último volume, o suspense grita no ouvido do telespectador a cada instante do filme. De Niro representa seu papel de maneira divina. Com um certo sotaque no inglês, o corpo todo tatuado e aquele olhar de algoz com texto maravilhoso, ele é o vilão perfeito para o filme. Sam Bowden (Nick Nolte) e Leigh Bowden (Jessica Lange) não deixam a desejar. Se precisavam demonstrar o medo que uma família sente ao saber que está sendo atacada sem defesa, eles o fazem primordialmente. Danielle Bowden (Julliete Lewis), filha do casal, pessoalmente, conseguiu me encantar. Sua personagem carrega quem assiste para onde ela quiser, seja na menina inocente que se envolve com De Niro como forma de provocação e rebeldia, seja quando, como a família, sente o medo à flor da pele. O título do filme, a priori, parece vago/abstrato (só parece), mas quando esse cabo (Cape) se rompe, não há previsão para as consequências.
Um filme genial em todos os aspectos. O medo presente do começo ao fim, repleto de frases incríveis como "There is nothing in the dark that isn't there in the light. Except fear". Planos lindíssimos, sequências impecáveis... sem dúvida, recomendável.

terça-feira, 26 de outubro de 2010


Harold and Maude (1971)



Eu juro, não corro atrás de comédias românticas, mas elas me seguem. O melhor, pelo menos, é que muitas são boas. Há muito o que falar deste filme: Ensine-me a Viver (no original: Harold & Maude).

Sou apenas um ufanista. Não sou capaz de avaliar atuação, não imagino o que seja fotografia, assisto até o fim dos créditos, mas não decoro o nome da maioria. Sei, entretanto, apreciar uma boa história e aquilo que absorvi é o que me acrescentará como pessoa. É disso o que falarei de Ensine-me a Viver

Falo sobre a história? Sobre o que aprendi com ele? Sobre algumas curiosidades?

O que acho curioso é como eu o descobri: recomendação de uma garota em um episódio de Anos Incríveis. Era um episódio que eu já havia visto, mas não dei importância na primeira vez. Agora foi o momento certo.

Harold, interpretrado por Bud Cort, é um garoto com seus dezesseis anos e de personalidade excêntrica. Um de seus hobbies é participar de funerais, parece gostar do que a morte representa. Tem dificuldades em se relacionar com as pessoas sem mostrar desprezo pelas coisas vivas. Sua mãe é transtornada pelas atitudes do filho, com certa razão: um dos divertimentos de Harold é criar falsos suicídios em uma tentativa de espantar pelo grotesco.

Ele prefaz o estilo de vida gótico, hoje tão esteriotipado. Só não é melancólico.

Entre um funeral e outro, Harold avista Maude, personagem de Ruth Gordon. Simpática, Maude é uma mulher de setenta e nove anos, toda autêntica, espontânea, canta e dança cheia de energia. É o oposto de Harold, não deixa nada guardado, não tem medo do mundo, se garante sem problemas.

A história segue em torno da compartilha entre os dois. Trocando experiências, um ensinando e o outro aprendendo. Mostra a importância em conhecer, experimentar todas as coisas do mundo. "Nos deram uma vida inteira só para ser explorada".

Os dois se apaixonam, e a diferença de idade é o suficiente para a sociedade; tanto da época quanto a atual; olhar com desgosto. Eles não se importam nem um pouco. Amor não tem idade.

Todas as pessoas que eu conheço tendem a glorificar os filmes que mais se identificaram. Não é regra geral, mas é um fator muito importante. Comédias românticas têm muito disso. Situações diversas, criadas pela nossa singularidade enquanto pessoas diferentes, mas que encaixam no enredo. Com Ensina-me a Viver foi um pouco diferente. Tive a oportunidade de conhecê-lo em um momento neutro. Não vivo um momento em que eu sinta amor parecido a outra pessoa, assim como nunca vivi uma relação com diferenças de idade tão grande (o máximo foi dez anos de diferença), nem me identifico com o personagem. Foi a forma mais pura de avaliar um filme, pois o que se obtém é a essência. Não busquei nele uma solução para meus momentos de garoto apaixonado.

Esse filme mostra a importância de um relacionamento, da cumplicidade com alguém. Não se convive por atração, se convive pelo que se vive. Uma pessoa com dez ou uma pessoa com noventa, não deixa de ser uma pessoa, e é isso o que importa. É importante é não morrer enquanto vive, mas também é essencial saber começar a viver.